O Captopril usado para combater hipertensão é feito a partir do veneno da jararaca.
Como assim? Veneno de serpente que pode matar, também pode tratar doenças?
A resposta é SIM.
Na década de 1960 o médico e cientista brasileiro Sérgio Henrique Ferreira e colaboradores isolaram uma substância (proteína) do veneno da Jararaca (Bothrops jararaca), capaz inibir os agentes naturais do organismo que aumentam a pressão arterial.
A suspeita de que o veneno da jararaca podia ser usado para tratar hipertensão, partiu da observação de um dos principais efeitos desse veneno que é a súbita queda de pressão da pessoa que é picada. Logo Sérgio Henrique começou a pesquisar qual componente do veneno era o responsável pela queda de pressão das vítimas e descobriu que se tratava de uma pequena proteína.
Após isolar e testar a proteína constataram que ela tinha ação vasodilatadora, ou seja, relaxa e aumenta o diâmetro dos vasos sanguíneos, ocasionando a queda na pressão. Com isso o coração se esforça menos, precisando de menos oxigênio.
A partir de então o tão procurado medicamento começou a ser desenvolvido, porém só chegou às farmácias vinte anos depois, com o nome comercial de captopril (capoten, no brasil). É que devido ser necessário uma enorme quantidade de veneno para produção do medicamento em larga escala e nem todas as jararacas do planeta conseguiriam produzir matéria- prima o bastante para satisfazer as necessidades da população, por esse método de produção o remédio sairia muito caro.
A solução veio em 1977 com os cientistas David Cushman e Miguel Ondetti, da empresa americana Squibb, que usaram o modelo biológico da proteína criado por Sérgio Henrique, para produzir uma proteína artificial com os mesmos efeitos, o que tornou barata a produção do remédio e consequentemente sua popularização. Hoje em dia o princípio ativo desse medicamento também é usado para tratar a insuficiência cardíaca congestiva, além de doenças cardiovasculares e renais.
Se hoje temos essa opção de tratamento para a hipertensão, é graças aos estudos do médico Sérgio Henrique, que foi professor titular no Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e tem seu nome em um prêmio instituído pela comunidade médica da Noruega. Seu falecimento ocorreu no dia 17 de julho de 2016 em Ribeirão Preto (SP).
Ronielson Lima – Biólogo