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CLONAGEM E CÉLULAS-TRONCO

Na clonagem reprodutiva, o núcleo de uma célula adulta seria introduzido no ovócito enucleado, com núcleo removido, e transferido para um “útero de aluguel”.
O termo clonagem deriva etimologicamente do grego klón, que quer dizer “broto”. Um clone é definido como um organismo que se origina de uma célula e é idêntico a essa célula original. Os indivíduos clonados são geneticamente idênticos; o genótipo será o mesmo mas, por influência ambiental, poderão ter diferentes fenótipos. É um mecanismo comum de propagação da espécie em plantas ou bactérias. Em plantas as células meristemáticas, atuam como as células-tronco nos animais. Em seres humanos, os clones naturais são os gêmeos univitelinos que se originam da divisão de um mesmo zigoto, originado de um mesmo ovócito fertilizado.

1 – Lei de Biossegurança

Clonagem reprodutiva humana é internacionalmente repudiada e clonagem terapêutica é objeto de polêmica.
No Brasil, o projeto da nova Lei de Biossegurança, aprovado pela Câmara dos Deputados no início de fevereiro de 2004, e que substitui a lei antes vigente, de 1995, proibia a produção de embriões humanos destinados a servir como material biológico. Só seria permitida a pesquisa com células-tronco provenientes de cordões umbilicais, medulas ósseas ou placentas. Embriões descartados pelas clínicas de fertilização in vitro ou produzidos por clonagem terapêutica não poderiam ser usados para a obtenção de células-tronco.
O Projeto (PLC 9/2004), ao passar pela Comissão de Educação do Senado (aprovado em 10 de agosto de 2004) recebeu do relator Senador Osmar Dias um substitutivo que permite a destruição de embriões humanos com o fim de suas células serem transplantadas para o tratamento de adultos doentes, com autorização do casal de doadores dos gametas, desde que estejam congelados até três anos da publicação da lei e que sejam inviáveis para a implantação no processo de fertilização.
A clonagem reprodutiva – para produzir seres humanos clonados – continuaria expressamente proibida porque não existe a menor segurança de que crianças geradas por meio dela serão bem formadas. Esta também é a posição das academias de ciências de mais de 60 países, incluindo a do Brasil, do Conselho da Europa que adotou (em janeiro de 1998, com vigor a partir de março de 2001) um protocolo que proíbe “qualquer intervenção que tenha por fim criar um ser humano geneticamente idêntico a outro ser humano vivo ou morto” e dos cientistas da Hugo (Organização Genoma Humano), durante seu encontro anual, em 2002, em Xangai (China).
O Senado aprovou em 6 de outubro de 2004 o projeto de Lei da Biossegurança, com o texto voltando à Câmara dos Deputados.
O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou na noite em 2 de março de 2005, 352 votos a favor, 60 contra e uma abstenção, o substitutivo do Senado, acatado pela Comissão Especial, no ano anterior, e o mesmo foi à sanção presidencial. O Diário Oficial da União, do dia 28/03/2005, publicou a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à nova lei de Biossegurança. A lei foi sancionada dia 24/03/2005, com sete vetos que não alteram os principais pontos da proposta.
Em dezembro de 2001, a ONU decidiu elaborar uma Convenção Internacional Contra a Clonagem Reprodutiva de Seres Humanos, deixando claro que a clonagem como forma de reprodução de seres humanos é internacionalmente repudiada e uma ameaça à dignidade do ser humano da mesma forma que a tortura, a discriminação racial e o terrorismo. Durante as reuniões para a elaboração desse tratado internacional, com a participação de mais de 80 países, ficou clara a existência de um único consenso internacional: a clonagem não deve ser utilizada como forma de reprodução assistida em seres humanos.
O comitê legal da assembleia-geral da ONU aprovou por apenas 1 voto (80 a favor e 79 contra, por discordarem do texto sobre clonagem terapêutica), com 15 abstenções, a proposta de adiar para 2005 a redação de um tratado sobre a clonagem.

2 . A clonagem reprodutiva

Na clonagem reprodutiva, o núcleo de uma célula adulta seria introduzido no ovócito enucleado, com núcleo removido, e transferido para um “útero de aluguel”, na fase de blastocisto, com a finalidade de gerar um embrião geneticamente idêntico ao doador do material genético. Resultaria uma célula única, diploide como a resultante da fusão de um óvulo e um espermatozoide, portanto similar a um zigoto. Essa célula já teria no seu núcleo o DNA com toda a informação genética para gerar um novo ser. O DNA estaria condensado e organizado em 46 cromossomos.
Logo após a fecundação, o “zigoto” começaria a se dividir: uma célula em duas, duas em quatro, quatro em oito e assim por diante, por mitoses de clivagem. Na fase de 32 a 64 células, as células do embrião se diferenciariam em dois grupos: um grupo de células externas, o trofoblasto ou trofoectoderma, que iria originar a placenta e demais anexos embrionários e uma massa de células internas, o botão ou nó embrionário, que originaria o embrião propriamente dito. Esse conjunto embrionário seria o blastocisto.
Nessa fase ocorreria a implantação, nidação, do embrião na cavidade uterina. As células internas do blastocisto originariam as centenas de tecidos que compõem um corpo humano. Seriam chamadas de *células-tronco totipotentes, antes da divisão em grupos, ou pluripotentes, após. A partir de um determinado momento, essas células somáticas, não sexuais, que ainda são todas iguais, começariam a se diferenciar nos vários tecidos que iriam compor ao organismo: sangue, fígado, músculos, cérebro, ossos, etc. Os genes que controlariam essa diferenciação e o processo pelo qual ela ocorreria ainda são objeto de pesquisa. O que sabemos é que, a partir daí, as células somáticas diferenciadas, especializadas para determinada (s) função (ões), perderiam a capacidade de originar qualquer outro tecido. As células descendentes de uma célula diferenciada iriam manter as mesmas características daquela que as originou, isto é, células de fígado iriam originar células de fígado, células musculares iriam originar células musculares, e assim por diante.
Apesar de o número de genes e o DNA serem iguais em todas as células do nosso corpo, os genes nas células somáticas diferenciadas se expressam de maneiras diferentes em cada tecido, isto é, a expressão gênica é específica para cada tecido. Com exceção dos genes responsáveis pela manutenção do metabolismo celular que se mantêm ativos em todas as células do organismo, só iriam funcionar, em cada tecido ou órgão, os genes importantes para a manutenção deste. Os outros seriam mantidos inativos.
Seria como um gêmeo monozigótico, idêntico, nascido posteriormente. A experiência demonstrou que não é um processo fácil.
A ovelha Dolly só nasceu depois de 276 tentativas que fracassaram. A equipe retirou uma célula embrionária normal de uma ovelha e removeu seu núcleo.
Depois, retiraram o núcleo de uma célula da glândula mamária de outra ovelha e usaram corrente elétrica para fundi-la com a célula enucleada. Além disso, dentre as 277 células da mãe de Dolly que foram inseridas em um óvulo sem núcleo, 90% não alcançaram nem o estágio de blastocisto. De todos os outros embriões que conseguiram se dividir e ser implantados, apenas Dolly nasceu. Apesar das dificuldades, o nascimento do primeiro mamífero clonado mostrou a possibilidade de um núcleo de uma célula totalmente diferenciada gerar um indivíduo adulto, aparentemente normal. Também ficou o aprendizado que a clonagem como forma de reprodução de mamíferos é extremamente ineficiente, com taxas de sucesso em torno de 1%.
A morte precoce do primeiro mamífero clonado do mundo mostra que a clonagem reprodutiva é perigosa mas mostrou que é possível se produzir tecidos e órgãos a partir de células-tronco. Dolly foi sacrificada na sexta-feira,14 de fevereiro de 2003, seis anos depois do seu nascimento, por sofrer de uma doença pulmonar incurável, segundo informações do Instituto Roslin, de Edimburgo, na Escócia, onde se deu a clonagem. O fato volta a pôr em evidência o envelhecimento precoce e os problemas de saúde verificados nos animais nascidos mediante essa técnica. A decisão foi resultado de exame que comprovou uma doença degenerativa, comum em ovelhas com muita idade, explicou o diretor interino do instituto, Harry Griffin. O corpo de Dolly foi prometido para o Museu Nacional da Escócia, em Edimburgo, onde deverá ficar exposto. Descobriu-se que os cromossomos de Dolly tinham telômeros menores que os de animais concebidos de forma natural. Telômeros são seqüências de DNA que ficam na extremidade dos cromossomos. Acredita-se que eles estejam associados ao envelhecimento celular, atuando como “cronômetros” bioquímicos.
A tentativa posterior de clonar outros mamíferos, tais como camundongos, porcos, bezerros e, mais recentemente, uma gata chamada Cc, ou CopyCat, também tem mostrado uma eficiência muito baixa e uma proporção muito grande de abortos e embriões malformados. No caso de Cc, de 188 óvulos clonados foram obtidos 87 embriões, mas somente um animal vivo.
Até hoje não se conseguiu clonar primatas, como macacos, nem cães. Além disso, pesquisadores do Japão acabam de relatar que camundongos clonados também têm vida mais curta e apresentam problemas como lesões hepáticas, pneumonia grave, tumores e baixa imunidade. De qualquer modo, isso mostra que esta questão, que é extremamente importante, continua em aberto. Sugere que existem diferenças de acordo com a espécie animal, começam com os diferentes tipos de óvulos e segmentação, e que, portanto, não podemos extrapolar achados em modelos animais para os humanos. Imagine-se uma criança com aspecto e doenças de um velho.

3. Conhecimentos sobre as células-tronco

Anos de pesquisa permitiram armazenar um extenso conhecimento sobre as células-tronco:
Totipotentes ou embrionárias: são as que conseguem se diferenciar em todos os 216 tecidos (inclusive a placenta e anexos embrionários) que formam o corpo humano. São aquelas presentes nas primeiras fases da divisão, quando o embrião tem até 16 – 32 células (até três ou quatro dias de vida). Essas células são conhecidas como ES (embryonic stem cells), e podem proliferar indefinidamente, in vitro, sem se diferenciar, mas também podem se diferenciar se forem modificadas as condições de cultivo. A grande conquista foi encontrar as condições adequadas para que as células ES proliferem e continuem indiferenciadas.
Pluripotentes ou multipotentes: são as que conseguem se diferenciar em quase todos os tecidos humanos, menos placenta e outros anexos embrionários. As pluripotentes ou multipotentes surgem quando o embrião atinge a fase de blastocisto (a partir de 32 -64 células, aproximadamente a partir do 5.o dia de vida). Assim, as células internas do blastocisto são pluripotentes enquanto as células da membrana externa do blastocisto destinam-se a produzir a placenta e as membranas embrionárias. Alguns trabalhos classificam as multipotentes como aquelas com capacidade de formar um número menor de tecidos do que as pluripotentes, enquanto outros acham que as duas definições são sinônimas. Pesquisas ainda em andamento indicam que até 14 dias depois da fecundação, as células embrionárias seriam capazes de diferenciar-se em quase todos os tecidos humanos.
Oligopotentes: são aquelas que conseguem diferenciar-se em poucos tecidos. São exemplo as encontradas no trato intestinal.
Unipotentes: as que conseguem diferenciar-se em um único tecido. Estão presentes no tecido cerebral adulto e na próstata, por exemplo.
O banimento quase universal da clonagem reprodutiva humana transferiu a polêmica para a clonagem terapêutica para obtenção de células-tronco embrionárias. Para muitos poderiam ser substituídas por células-tronco adultas, que recebem também a denominação individual de pós-natal, por estarem presentes em recém-nascidos e no cordão umbilical. Em junho de 2000, um grupo do Instituto Karolinska (Suécia), liderado por Jonas Frisen, confirmou que células-tronco neurais de camundongos adultos têm capacidade generalizada de diferenciação, podendo gerar qualquer tipo celular, de músculo cardíaco a estômago, intestino, fígado e rim, quando injetadas em embriões de galinha e camundongo. Esse resultado quebrou todos os dogmas, indicando que uma célula-tronco adulta é capaz de se diferenciar em qualquer tipo de célula, independentemente de seu tecido de origem, desde que cultivada sob condições adequadas.
Pesquisas recentes constataram que além da pele, do intestino e da medula óssea, outros tecidos e órgãos humanos – fígado, pâncreas, músculos esqueléticos (associados ao sistema locomotor), tecido adiposo e sistema nervoso – têm um estoque de células-tronco e uma capacidade limitada de regeneração após lesões. A pluripotencialidade das células-tronco adultas tem sido contestada por pesquisas desenvolvidas em diversos laboratórios e Universidades e, segundo eles, torna-se necessário a investigação do uso de células-tronco embrionárias humanas nas terapias celulares, comparando-as com as células-tronco adultas.
O tema foi debatido no Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados da Ufrgs durante o seminário “Células-tronco: biologia e aplicações”. No encontro, foram discutidas questões éticas e legais e usos das células em vários tipos de doenças. Participe de uma pesquisa e informe-se sobre os resultados acessando “Discussão sobre Pesquisa Utilizando Células Tronco Embrionárias Humanas”.
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